A cólera é uma doença diarreica aguda causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae, através da ingestão de alimentos ou água contaminados pela bactéria Vibrio cholerae. Apenas dois sorogrupos (existem cerca de 190) dessa bactéria são produtores da enterotoxina, o V. cholerae O1 (biotipos “clássico” e “El Tor”) e o V. cholerae O139. Tem um período de incubação curto, que varia de duas horas a cinco dias, e manifesta-se com diarreia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras, que quando não tratada prontamente, pode evoluir para a desidratação grave, e distúrbio eletrolítico, acidose e colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiência renal e, consequentemente a morte em poucas horas.
Modo de transmissão
Uma vez que a transmissão da cólera está associada à gestão inadequada do meio ambiente, a falta de água potável, higiene individual e colectiva deficiente, a transmissão ocorre, principalmente, pela ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou vómitos de um doente ou portador. A contaminação de rios ocorre pelo tratamento inadequado de água e esgoto (com fezes e vômito de pessoas contaminadas). A variedade El Tor, mais resistente a vida aquática, é mais virulenta. A contaminação pessoa a pessoa é também importante na cadeia epidemiológica.
Manifestações clínicas:
A cólera manifesta-se de forma variada, desde infecções inaparentes até diarreia profusa e grave. Além da diarreia, podem surgir vômitos, dor abdominal e, nas formas severas, cãibras, desidratação e choque. A febre não é uma manifestação comum. Portanto, a doença pode manifestar-se de 2 formas:
- Na forma grave, os casos graves mais típicos (menos de 10% do total), o início é súbito, com diarreia aquosa, profusa, com inúmeras dejeções diárias, por vezes do tipo “água de arroz” e cheiro a peixe, com ou sem vómitos, dor abdominal e cãibra. A diarreia e os vômitos, nesses casos, determinam uma extraordinária perda de líquidos, que pode ser da ordem de 1 a 2 litros por hora. A desidratação não corrigida levará a uma deterioração progressiva da circulação, da função renal e do balanço hidroeletrolítico, produzindo dano a todos os sistemas do organismo. Em consequência, sobrevém choque hipovolêmico, necrose tubular renal, íleo paralítico, hipocalemia (levando a arritmias), hipoglicemia (com convulsão e coma em crianças), ocasionando a morte, em 6 horas.
- A forma leve ou oligossintomática, apresenta-se com diarreia leve, como acontece na maioria dos casos. Cerca de 80% das pessoas infectadas com o vibrião colérico são assintomáticas, embora a bactéria esteja presente nas suas fezes e sejam eliminadas de volta para o meio ambiente, podendo potencialmente infectar outras pessoas, ou a água e os alimentos.
Avaliação clínica e tratamento do paciente
http://localhost/2019/03/colera-avaliacao-clinica-e-tratamento/
Prevenção
- Mudança de comportamento quanto a higiene e saneamento de meio ambiente
- Purificar a água antes de consumir (pode ser usado cloro).
- Fazer uma boa higiene pessoal.
- Proteger os alimentos do contato com moscas.
- Evitar o consumo de alimentos crus.
- Disposição adequada de excretas (construção de latrinas).
- Proteger os doentes do contato das moscas.
- Investigar os casos de aparição da doença no grupo.
- A vacinação oral
Promovendo as medidas preventivas
O técnico de saúde para além das sessões de educação sobre saúde que efectua junto á população seja dentro da Unidade Sanitária ou na Comunidade, deve aproveitar o momento de distribuição de materiais (redes mosquiteiras, certeza ou javel, sabão, ou outros) para disseminar mensagens que promovam a mudança de comportamento das pessoas. Por exemplo, quanto estiver a distribuir sabão, aproveita a ocasião para disseminar mensagens sobre a necessidade de se lavar as mãos com água e sabão e como fazer de forma correcta, principalmente depois de usar a latrina.
Mensagens para a Comunidade
As famílias e a comunidade em geral precisam de água para o consumo em quantidade suficiente e boa qualidade. Em situação de emergência, é ainda mais importante que toda água seja tratada antes de beber.
Tratamento e conservação da água para beber
- A água pode ser tratada com Certeza, javel ou cloro, e o técnico de saúde deve promover e/ou ajudar a comunidade a tratar a água directamente a partir da fonte de água.
- Se for com Certeza, coloca-se uma tampinha do frasco no bidão de 20 litros de água. Depois de colocar Certeza, espera-se 30 minutos antes de beber até fazer efeito, eliminando as bactérias.
- Se for javel, colocam-se 2 colheres de chá por cada bidão de 20 litros.
- Se não tiver Certeza, javel ou cloro, a água pode ser fervida por pelo menos 5 minutos e deixa-se arrefecer antes de beber.
- Toda água deve ser guardada em recipientes limpos e tapados durante o transporte das fontes de água e depois de tratada ou fervida.
- É importante conservar a água para beber em lugares seguros, fora do alcance das crianças e dos animais.
Higiene das mãos
Lavar as mãos as mãos com água e sabão é uma forma de evitar as doenças diarreicas em geral, incluindo a cólera. Por isso deve-se sempre lavar as mãos com água e sabão antes de comer, amamentar ou dar de comer as crianças, preparar os alimentos ou depois de usar a latrina.
As mãos devem ser lavadas com água corrente (da torneira ou deitando com uma caneca) e sabão. O vídeo a seguir mostra uma forma prática de condicionar a disposição de água para a lafvagem das mãos.
Tratamento e conservação dos alimentos
A comida deve-se tapar para evitar o contacto com poeiras e, principalmente, o contacto com as moscas ou outros vectores que podem transportar micróbios nas suas patas.
Os vegetais destinados para consumo em saladas ou cruas, e as frutas devem ser bem lavadas com água tratada, pois podem ter bactérias ou micróbios causadores de doenças.
Uso correcto e limpeza das latrinas
As fezes são fonte de infecção quanto expostas ao ar livre. As moscas que poisam nas fezes deixadas ao ar livre podem transportar nas suas patas os micróbios que existem nas fezes até os alimentos, a comida ou água, contaminando-as. Por isso, é que se deve usar sempre a latrina e mantê-la tapada e limpa. As crianças também devem aprender a usar a latrina.
O técnico de saúde, em caso de emergências, deve promover e mobilizar as famílias afectadas para participar na construção de latrinas comunitárias, seja nos centros de acomodação temporânea, seja nos bairros de nova relocação.
As latrinas devem ser mantidas limpas e tapadas. A cinza é um óptimo produto para a desinfectar as latrinas e reduzir o cheiro.
Referências
- MISAU/Direcção Nacional de Saúde Pública/Departamento de Epidemiologia; Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de Outras Diarreias Agudas – 4ª. Edição. Maputo, Moçambique. 2016.
- INGC & UNICEF; Guião para Activistas em Situação de Emergência. 2ª Edição. 2013.
- Global Health Media Project & Yony Goodman; The Story of Cholera (Video)
- UNICEF; Lavar as mãos evita doenças e salva vidas (Video)
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