Fumo de tabaco destrói corações
Todos os anos, o tabaco mata mais de 7 milhões de pessoas, o que significa que cada dia, 19.000 pessoas morrem em consequência do uso ou exposição ao fumo de tabaco. A maioria das mortes relacionadas ao tabaco é registada em países de baixa e média renda, onde a população está sujeita a táticas intensivas de marketing da indústria do tabaco.
Mas o tabaco também pode ser mortal para os não-fumadores: o fumo passivo produz doenças cardíacas, cancro e outras doenças, e é a causa de cerca de 890.000 mortes prematuras a cada ano. A magnitude do caos que o tabaco causa na saúde das pessoas é surpreendente. Mas essas mortes podem ser evitadas. A indústria do tabaco continua a incentivar vigorosamente o consumo do tabaco e fazer todo o possível para esconder os perigos seus produtos levam consigo, mas estamos firmes para combatê-los.
A nível mundial, um em cada três óbitos é consequência de doenças cardiovasculares (DCV), apesar da disponibilidade de tratamentos eficazes, econômicos e seguros. De fato, as DCVs são a principal causa mundial de morte, e eles retiram a vida a cerca de 18 milhões de pessoas cada ano, 80% destas pessoas em países de baixa e média renda como Moçambique.
O consumo de tabaco e a exposição ao fumo passivo estão entre as principais causas de DCV, e contribuem para aproximadamente 17% das mortes globais por DCV, ou seja, cerca de 3 milhões de mortes por ano.
O risco cardiovascular aumenta com a quantidade de tabaco fumado e os anos de consumo. No entanto, embora exista uma relação clara entre a quantidade de tabaco fumado por dia e risco cardiovascular, essa relação não é linear. O risco aumenta consideravelmente mesmo com baixa exposição ao fumo de tabaco, como ocorre com a exposição ao fumo alheio (fumador passivo). De facto, fumar apenas um cigarro por dia implica metade do risco de doença coronária e acidente vascular cerebral (AVC) do que fumar 20 cigarros por dia.
A exposição ao fumo passivo pode causar doença cardíaca coronária em adultos e aumenta o risco em torno de 25% a 30%. As DCV são, de longe, a principal causa de morte associada à exposição ao fumo passivo. Cerca de 55% das quase 890.000 mortes de adultos que ocorrem todos os anos no mundo devido à exposição ao fumo alheio são atribuíveis à cardiopatia isquémica.
No relatório de 2014 sobre tabaco, o Departamento de Saúde dos Estados Unidos da América concluiu que existe uma relação causal entre a exposição ao fumo passivo e eventos cardiovasculares agudos, e que a aplicação de leis e políticas sobre ambientes sem fumo de cigarro reduz significativamente esses episódios em não-fumadores com menos de 65 anos de idade.
O fumo do tabaco contém mais de 7000 substancias químicas e está composto por duas fases:
1. A fase de partículas e uma fase gasosa. O primeiro contém nicotina, uma substância muito viciante que aumenta a frequência cardíaca, pressão arterial e contratilidade do miocárdio e alcatrão de tabaco que, combinados, contribuem para as cardiopatias através dos seguintes mecanismos: inflamação, alteração do endotélio capilar, aumento da coagulabilidade e redução do colesterol de lipoproteínas de alta densidade.
2. A fase gás contém, entre outros, monóxido de carbono, um gás venenoso que substitui o oxigênio no sangue, reduzindo o oxigênio disponível para o músculo cardíaco e outros tecidos do organismo.
Esses efeitos fisiopatológicos do tabaco predispõem usuários ativos de tabaco e a fumadores passivos à aterosclerose (estreitamento das artérias), o que pode causar diferentes tipos de DCV, como cardiopatia isquémica, acidente vascular cerebral, arteriopatias periféricas e aneurismas válvulas aórticas. Todos os produtos do tabaco são intrinsecamente prejudiciais, incluindo aqueles que não produzem fumo, que contêm mais de 2.000 produtos químicos, incluindo a nicotina. Eles também contêm metais pesados, como o cádmio, e aditivos, como o alcaçuz ou as cinzas queimadas do fungo Phellinus igniarius (“cinza do punk”), que são prejudiciais ao sistema cardiovascular. Os produtos do tabaco sem fumo (tabaco mastigado, cigarros electrónicos) também podem causar doenças cardíacas porque elevam a pressão arterial de forma aguda e causam hipertensão crônica. Revisões de outros estudos mostraram que há uma relação entre o consumo de tabaco sem fumaça e morte por infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. O consumo deste tipo de produto está crescendo em muitas partes do mundo, e em alguns países, como Bangladesh ou Índia, é mais frequente do que o consumo de tabaco fumado.
Referência:
Organización Mundial de la Salud; El tabaco rompe corazones. Elija salud, no tabaco. Ginebra. 2018. (WHO/NMH/PND/18.4)
Cólera: Avaliação Clínica e Tratamento
A cólera é uma doença diarreica aguda causada pela enterotoxina do Vibrio cholerae, através da ingestão de alimentos ou água contaminados pela bactéria Vibrio cholerae. Tem um período de incubação curto, que varia de duas horas a cinco dias, e manifesta-se com diarreia aquosa e profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras, que quando não tratada prontamente, pode evoluir para a desidratação grave, acidose e colapso circulatório, com choque hipovolêmico e insuficiência renal e, consequentemente a morte em poucas horas.
Factos importantes:
- A cólera é uma doença diarreica aguda que pode matar em poucas horas se não for tratada.
- Até 80% dos casos podem ser tratados com sucesso com sais de re-hidratação oral.
- Medidas de controlo eficazes dependem da prevenção, preparação e resposta.
- Fornecimento de água potável, alimentos seguros e o saneamento básico são fundamentais para reduzir o impacto da cólera e outras doenças de transmissão oro-fecal e hídrica.
- Educação em saúde para a comunidade é importante para a adopção de comportamentos preventivos para evitar a contaminação.
- Fornecimento de água potável, saneamento básico e segurança alimentar são fundamentais para a prevenção da ocorrência de cólera.
- Existem vacinas orais, consideradas um meio adicional para controlar a cólera, mas que não substituem as medidas de prevenção e controlo convencionais.
Modo de transmissão
Uma vez que a transmissão da cólera está associada à gestão inadequada do meio ambiente, a falta de água potável, higiene individual e colectiva deficiente, a transmissão ocorre, principalmente, pela ingestão de água ou alimentos contaminados por fezes ou vómitos de um doente ou portador. A contaminação pessoa a pessoa é também importante na cadeia epidemiológica.
Manifestações clínicas:
A cólera manifesta-se de forma variada, desde infecções inaparentes até diarreia profusa e grave. Além da diarreia, podem surgir vômitos, dor abdominal e, nas formas severas, cãibras, desidratação e choque. A febre não é uma manifestação comum. Portanto, a doença pode manifestar-se de 2 formas:
- Na forma grave, os casos graves mais típicos (menos de 10% do total), o início é súbito, com diarreia aquosa, profusa, com inúmeras dejeções diárias, por vezes do tipo “água de arroz” e cheiro a peixe, com ou sem vómitos, dor abdominal e cãibra. A diarreia e os vômitos, nesses casos, determinam uma extraordinária perda de líquidos, que pode ser da ordem de 1 a 2 litros por hora. Este quadro, quando não tratado de imediato, pode evoluir para desidratação rápida, acidose, colapso circulatório, com choque hipovolémico, insuficiência renal e morte, em 6 horas.
- A forma leve ou oligossintomática, apresenta-se com diarreia leve, como acontece na maioria dos casos.
Cerca de 80% das pessoas infectadas com o vibrião colérico são assintomáticas, embora a bactéria esteja presente nas suas fezes e sejam eliminadas de volta para o meio ambiente, podendo potencialmente infectar outras pessoas, ou a água e os alimentos.
Complicações:
As complicações na cólera decorrem, fundamentalmente, da depleção hidro-salina causada pela diarreia e pelos vômitos. Ocorrem mais frequentemente nos indivíduos idosos, diabéticos ou com patologia cardíaca prévia. A desidratação não corrigida levará a uma deterioração progressiva da circulação, da função renal e do balanço hidroeletrolítico, produzindo dano a todos os sistemas do organismo. Em consequência, sobrevém choque hipovolêmico, necrose tubular renal, íleo paralítico, hipocalemia (levando a arritmias), hipoglicemia (com convulsão e coma em crianças).
O aborto é comum no 3º trimestre de gestação, em casos de choque hipovolêmico. As complicações podem ser evitadas, com hidratação adequada.
Avaliação clínica do paciente
A observação dos sinais e dos sintomas é fundamental para que se possa classificar o paciente quanto ao seu estado de hidratação no decorrer da diarréia de qualquer etiologia, inclusive a causada pela cólera, com a finalidade de identificar o grau de desidratação e decidir sobre o plano de reposição.
Quadro 2: Avaliação do grau de desidratação do doente
A avaliação do estado de hidratação do paciente é baseada na presença dos sintomas e sinais apresentado no Quadro 3.
Quadro 3: Classificação do estado de hidratação
Tratamento
O tratamento dos casos de cólera e de outras diarreias agudas de acordo com as normas em vigor no País, implica:
- Determinar o grau de desidratação do doente (Quadro 2).
- Administrar líquidos, de acordo com o plano de tratamento.
- Recolher uma amostra de fezes dos 5 primeiros doentes com suspeita de cólera e de outras Diarreias Agudas que forem observados na unidade sanitária.
A rehidratação rápida e adequada é a principal intervenção para o tratamento de casos de cólera, quer por via oral para os casos moderados, ou por via intravenosa para casos graves. Até 80% dos pacientes podem ser tratados adequadamente por meio da administração de SRO. Os doentes graves e desidratados são tratados através da administração de fluidos intravenosos, de preferência Lactato de Ringer.
A administração de antibióticos adequados está indicada apenas para os casos graves para diminuir a duração da diarreia, reduzir o volume de fluidos para hidratação necessários e encurtar a duração da doença.
Para as crianças de 0 a 5 anos, a administração suplementar de zinco tem-se mostrado eficáz na redução da duração da diarreia, bem como redução de sucessivos episódios de diarreia. O suplemento deve ser iniciado no início dos sintomas. A Tabela 3 apresenta a dose de zinco a administrar às crianças com cólera.
Tabela 3: Dose de zinco a administrar durante o tratamento de crianças com cólera.
Rehidratação
Este é o componente essencial do tratamento, cujo objectivo é o de repor a água e electrólitos perdidos através da diarreia e vómitos. Nas Tabelas 5, 6 e 7 é apresentada a rehidratação segundo os planos de tratamento A, B, C.
Note que, a reposição de líquidos por via oral é a preferida, enquanto a reposição intravenosa é reservada para a rehidratação de pacientes com desidratação grave ou que eliminam mais de 10-20 ml/kg/h. Administra-se por sonda nasogástrica.
Tabela 5: Rehidratação segundo o plano de tratamento A
Tabela 6: Rehidratação segundo o plano de tratamento B
Tabela 7: Rehidratação segundo o plano de tratamento C
Em relação ao Plano C:
- É extremamente importante manter um registo escrito de perda de fluido e consumo, a fim de ajustar a administração de fluidos para os pacientes.
- Se o doente vomitar enquanto toma SRO, esperar 10 minutos e depois continuar a darlhe líquidos mais lentamente.
- Continuar a amamentação dos bebés e crianças pequenas.
Tratamento com antibiótico
Além de rehidratação, é recomendado o tratamento antibiótico apenas nos casos com desidratação grave. A terapia antimicrobiana é útil para (a) rápida eliminação do vibrião, (b) diminuir a duração da diarreia, e (c) diminuir a perda de líquidos.
Tabela 9: Dosagem de antibióticos no tratamento de doentes gravemente desidratados com cólera
Referência:
MISAU/Direcção Nacional de Saúde Pública/Departamento de Epidemiologia; Manual de Prevenção e Controlo da Cólera e de Outras Diarreias Agudas – 4ª. Edição. Maputo, Moçambique. 2016.
Cancro do Colo do Útero, Câncer Cervical, ou Câncer do colo de útero
Cancro do colo do útero é um tipo de tumor maligno que ocorre na parte inferior do útero, no cervix. O câncer cervical é o terceiro câncer mais comumente diagnosticado em todo o mundo e a quarta principal causa de morte por câncer em mulheres. O câncer cervical causa cerca de 266.000 mortes em todo o mundo. A taxa de mortalidade é dez vezes maior nos países em desenvolvimento em comparação com os países desenvolvidos. Nas últimas décadas, a incidência de cancro do colo do útero diminuiu em um terço e a mortalidade em metade. Está comprovado que o programa de rastreamento do colo do útero está associado com o aumento da taxa de cura do cancro do colo do útero. Este tipo de cancro é mais comum em pessoas com idades entre 25 e 34 anos.
O cancro do colo do útero é uma das primeiras dez causas de morte de mulheres em Moçambique.
O Vírus HPV
O cancro do colo do útero é causado por uma infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV). O Vírus HPV transmite‐se principalmente pelo contacto sexual, ficando alojado na área genital dos homens e mulheres, mas existem outras vias como: o canal de parto, o uso de materiais contaminados (por exemplo: roupas íntimas, toalhas, etc…).
Dos 150-200 tipos de HPV conhecidos, os tipos 16 e 18 do vírus do papiloma humano (HPV) causam 75% dos cânceres do colo do útero em todo o mundo, enquanto os tipos 31 e 45 são a causa de mais 10% dos casos. Mulheres com múltiplos parceiros sexuais (ou que tenham relações sexuais com homens que têm ou tiveram muitos outros parceiros) estão em maior risco de desenvolver o câncer. Acredita-se que a infecção pelo HPV seja uma condição necessária para o desenvolvimento do câncer do colo do útero.
Factores de Risco
- Início precoce da vida sexual.
- Grande quantidade de parceiros sexuais, aumenta o risco de contrair HPV.
- Presença de outras DSTs, como gonorreia, sífilis, clamídia ou HIV.
- Sistema imunológico debilitado permite que o HPV tenha mais possibilidades de se manifestar.
- Tabagismo pode aumentar incidência de carcinoma de células escamosas.
- Uso prolongado de pílula anticoncepcional (por mais de 5 anos).
- Histórico de três ou mais gestações.
- Uso de DIU.
- Histórico familiar de câncer de colo do útero.
Sinais e Sintomas
As lesões ou feridas iniciais no colo do útero provocadas pelo vírus HPV podem não provocar sintomas. Quando a doença se agrava para cancro do colo do útero normalmente a mulher pode sentir ou ter:
- Sangramentos vaginais anormais, por exemplo hemorragias entre as menstruações, hemorragia durante ou após as relações sexuais, e hemorragias após a menopausa;
- Corrimento vaginal anormal, aumentado e que se repete, por vezes com mau cheiro;
- Dor durante as relações sexuais;
- Dor na pelve.
Os sintomas do cancro do colo do útero avançado incluem: perda do apetite, emagrecimento, fadiga, dor pélvica, dor lombar, dores e inchaço nas pernas, sangramento vaginal de grande volume, fraturas e, mais raramente, perda de urina e fezes pela vagina. Sangramento após ducha vaginal ou após o exame ginecológico é um sintoma comum do câncer do colo do útero.
Na consulta o técnico pode realizar perguntas que lhe permitam identificar melhor a presença de um provável cancro cervical, tais como:
- Quais são os seus sintomas? Apresenta sangramento vaginal irregular?
- Quando você começou a apresenta-los?
- Você faz os exames de Papanicolau desde que têm uma vida sexual activa? Já apresentou um resultado deste exame anormal?
- Você já foi tratada devido a algum problema no colo do útero?
- Você já foi diagnosticada com alguma ITS?
- Você fuma ou já fumou? Em que quantidades?
Uma mulher que tenha sido infectada pelo HPV desenvolve uma lesão (ferida) no colo do útero, que pode levar até 10 a 20 anos para desenvolver o cancro do colo do útero.
Diagnóstico
O cancro do colo do útero em estágio inicial pode ser rastreado pelo técnico nas consultas de rotina. Para detectá-lo ou as lesões do HPV os exames mais usados são:
- Papanicolau
- Colposcopia e vulvoscopia, com biópsia se necessário.
- Os exames de prevenção costumam ser feitos depois que a mulher começa a ter uma vida sexual activa.
Quando o câncer de colo do útero já está em curso, outros exames podem ser feitos para identificar a extensão do tumor:
- Biópsia da região
- Tomografia computadorizada
- Ultrassom
- Ressonância magnética
- Tomografia por emissão de pósitrons (PET-Scan).
Estadiamento
O cancro do colo do útero é estadiado a partir do sistema estabelecido pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), que se baseia mais no exame clínico do que nos achados cirúrgicos. Apenas os testes e métodos não invasivos a seguir podem ser usados no estadiamento da doença, quando se utiliza o sistema FIGO: palpação, inspeção, colposcopia, curetagem endocervical, histeroscopia, cistoscopia, proctoscopia, urografia intravenosa, conização e radiografia do tórax e do esqueleto.
Estádio I: Tumor limitado ao colo |
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Estádio 1a Carcinoma invasivo diagnosticado só por microscopia |
Estádio 1b Lesões invasivas clinicamente visíveis limitadas ao colo ou lesão visível no microsocopio >IA2 |
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Estádio II: Tumor com invasão para além do útero sem atingir a parede pélvica ou o terço inferior da vagina |
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Estádio 2a
Sem invasão dos paramétrios |
Estádio 2b Com invasão dos paramétrios mas não da parede pélvica |
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Estádio III:
Extensão para a parede pélvica e/ou envolvimento do 1/3 inferior da vagina e/ou hidronefrose ou rim não funcionando |
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Estádio 3b
Extensão para a parede pélvica e/ou hidronefrose ou rim não funcionando |
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Estádio IV Extensão para além da pélvis ou envolvimento da mucosa da bexiga ou recto |
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Estádio 4ª
Tumor com invasão de órgãos adjacentes |
Estádio 4b Tumor com invasão de órgãos à distância |
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Prevenção
O Cancro do Colo do Útero PODE SER PREVENIDO!
- Vacinar as meninas contra o HPV entre a idade de 9 e 20 anos. A vacina reduz o risco de desenvolver o câncer cervical em 93% e também protege contra o câncer de vagina, câncer de vulva, câncer retal, câncer de faringe e câncer de boca, que também associados ao HPV. A vacina nos homens também previne cânceres masculinos como o câncer de pênis e a transmissão do HPV para mulheres.
- Uso de preservativo em todas relações sexuais.
- Mudança de comportamentos sexuais de risco para reduzir a transmissão de doenças sexuais
- Adiamento das relações sexuais nas meninas,
- O rastreio e tratamento das lesões ou feridas iniciais do colo do útero. Através do exame de Papanicolaue da colposcopia é possível realizar a monitorização das mulheres saudáveis para detectar lesões intracervicais (CIL). O exame deve ser repetido a cada 5 anos em mulheres sem factores de risco, a cada 3 anos com baixo risco e anualmente quando há alto risc O primeiro exame normalmente é feito entre os 20 e os 30 anos.
No País, algumas unidades sanitárias já estão a fazer o rastreio do cancro do colo do útero e o tratamento imediato das lesões iniciais antes de estas se transformarem em lesões malignas. O técnico de saúde deve transferir as utentes com sinais e sintomas para uma unidade sanitária para o rastreio.
Tratamento
O tratamento geralmente é por cirurgia, radioterapia e quimioterapia, e depende das condições do paciente, do tipo de tumor e da sua procedência.
Prognóstico
A sobrevivência 5 anos após o diagnóstico é em média de 72%. Nos estágios iniciais é de 92%, caindo 35% nos estágio III e 15% no estágio IV. Cerca de 35% das mulheres com câncer invasivo voltam a ter esse câncer em menos de 5 anos. Geralmente as metástases são locais, invadindo vagina, bexiga, cólon, reto e peritônio.
Referências
- Louise Newson; Cervical Cancer https://patient.info/doctor/cervical-cancer-pro
- World Cancer Report 2014: World Health Organization. 2014. pp. Chapter 1.1. ISBN 9283204298
- Bosch, FX; de Sanjosé, S (2007). «The epidemiology of human papillomavirus infection and cervical cancer.». Disease Markers.
- Cervical Cancer Prevention (PDQ®). National Cancer Institute. 27 de fevereiro de 2014.
- Bermudez, Adriana e Col.; Câncer do colo do útero, FIGO CANCER REPORT 2015.
VISÃO GERAL DE TUBERCULOSE EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE MOÇAMBIQUE
Autor: Maria Mico Polana
A tuberculose constitui um grave problema de saúde pública, com grande repercussão mundial. A sua presença, concomitante vem suscitando diversos impactos negativos na comunidade em geral.
Em Moçambique, a TB constitui uma das causas mais comuns de morbi-mortalidade em indivíduos vivendo com HIV/SIDA, tendo em conta que 36% de novos casos da tuberculose são co–infetados pelo HIV e, a taxa de óbito rondou em 6% em 2018. A importância clinica e epidemiológica da doença em nosso meio é amplamente conhecida pois, segundo a OMS, estima-se que cerca de 163 mil pessoas são infetadas anualmente pela doença em Moçambique.
Todavia este cenário, faz com que o controlo e prevenção da TB na comunidade e nos serviços de prestação de cuidados de saúde, represente um desafio a todos os níveis da esfera de saúde publica, o qual é aumentado pelo surgimento de cada vez mais de formas de TB Resistente (TBMR) implicando necessariamente maior esforço em termos de recursos humanos, financeiros e logísticos para o combate da epidemia.
Entre os grupos de risco para essa infecção estão os trabalhadores de saúde – um dos grupos de risco de contrair a doença, associado ao tempo de exposição a pacientes com a doença durante o serviço, a demora no diagnóstico bem como o incumprimento das medidas administrativas de controlo ambiental e de proteção respiratória individual. Como consequência, há um risco acrescido da probabilidade da ocorrência da transmissão nosocomial quando as medidas preventivas que visam salvaguardar a saúde do trabalhador são deficientes ou inexistentes.
O Ministério de Saúde de Moçambique, através do Programa Nacional de Controlo da Tuberculose implementa desde 2008, o programa de Controlo de Infecções por TB (CITB) nas unidades sanitárias do país e, neste âmbito em 2010 a Jhpiego, parceiro de cooperação do MISAU, apoiou na realização do primeiro estudo nacional intitulado “Avaliação rápida: Risco de transmissão da TB e grau de cumprimento das medidas de CITB nos locais de cuidados de saúde em Moçambique”. O citado estudo serviu de base para a definição de directrizes gerais no combate à Tuberculose no País, descritas na “Politica e Plano Nacional de CITB em US e ambientes conglomerados de Moçambique”, aprovada em 2010 de implementação a nível nacional.
No intervalo de 2016 até o final de 2018, o Ministério da Saúde formou 412 formadores provinciais em CITB de todas as províncias do país, e foram apoiados a elaboração de dos 238 planos de controlo de infeções para TB (Figura 1) os quais estão disseminados a todos os trabalhadores conforme ilustra a figura abaixo.
Figura 1. Número de US com planos de CITB elaborados e funcionais no país até 2018
Durante a elaboração do plano de CITB, os profissionais de saúde são formados em serviço para garantir o acompanhamento de medidas administrativas, ambientais e de proteção respiratória através do uso do respirador N95. Paralelamente, o MISAU levou a cabo mais de 200 rondas de supervisão e assistência técnica baseado na ferramenta de avaliação de risco para infecção por TB – Dashboard e, como resultado destas rondas 40% das US com plano de CITB alcançaram 80% de desempenho nas medidas de CITB. Estas acções, também permitem estabelecer mecanismos para o rastreio periódico de TB em profissionais de saúde através dos gabinetes de consulta para o profissional de saúde, priorizando aqueles afectos em serviços com maior produção de aerossóis. Neste contexto, nos últimos 3 anos, resultando da vigilância ativa para determinação precoce da infecção por TB em.128 US de 10 províncias, 26,503 profissionais de saúde foram rastreados por TB dos quais 492 foram confirmados TB activa (Figura 2) e arrolados aos cuidados e tratamento.
Figura 2. Número de trabalhadores de saúde confirmados activa TB, 2016-2018
Fonte: Resumo mensal da consulta do profissional reportados pelos supervisores provinciais de SSAT
Actualmente, mais profissionais de saúde estão mais consciencializados em relação a adesão na implementação das medidas de CITB assim como as actividades de rastreio periódico de TB, porém as acções de vigilância de TB em profissionais de saúde tem aumentado e como resultado, mais profissionais de saúde têm oportunidade de serem diagnosticados TB precocemente.
É tempo de juntos acabarmos com a TUBERCULOSE em Moçambique.
Uso de aplicativos para sessões de web-palestras no Núcleo central de Telessaúde MZ
Hoje em dia com a necessidade de se comunicar e ter informação em tempo real abaixo custo, existem vários aplicativos de fácil uso e instalação, que podem ser usados para sessões de videoconferência conectando pessoas de diferentes continentes, países e cidades para tomada de decisão em vários sectores de trabalho.
A seguir citamos alguns aplicativos mais utilizados para videoconferência ou webconferência:
- Skype
- Zoom
- StarLeaf
- Google Hangouts
- Google Meet
- BlueJeans
- Pexip
Estes aplicativos, se tornaram de muito utilidade no quotidiano de profissionais de diversas áreas, contudo existem os mais destacados que são: Skype, Zoom e StarLeaf, estes três (03) conseguiram conquistar várias empresas que tem interesse em reuniões virtuais, evitando deste modo deslocação dos seus profissionais e reduzindo deste modo custos.
Recentemente o Google lançou um novo aplicativo de videoconferência voltado para empresas denominado Meet, que permite participar em reuniões de vídeo em HD, parece ser a mais recente adição à lista de produtos empresariais do Google. O serviço ainda está em processo de desenvolvimento e implantação, por isso, está disponível somente na versão web e para o sistema operacional iOS. No entanto, as versões ainda não estão apresentando as mesmas funcionalidades
De uma forma geral, todos esses aplicativos têm custo zero para seu uso e funcionamento, porém consoante as necessidades técnicas que o utilizador (instituição) pode precisar podem sim acarretar algum custo, como por exemplo, o número de utilizadores durante a sessão, gravação em formato de vídeo dentre outras.
Onde pode ser instalado?
Para além de serem utilizados em computadores laptop e desktop, podem ser usados também em mobiles.
O que é necessário para fazer o uso?
Para fazer uso de qualquer um dos aplicativos mencionados, basta ter uma conta de email, desse modo pode-se aceder em qualquer lugar ou dispositivo (computador ou telemóvel) bastando estar ligado a internet, para o caso concreto do Núcleo de Telessaúde MZ, todos os pontos têm uma conta de email (ex: hospital.gurue@localhost) e a mesma está associada a conta StarLeaf.
Aplicativo utilizado no Núcleo de Telessaúde MZ para webpalestras
Telessaúde em Moçambique ou simplesmente Telessaúde MZ tem usado até então o aplicativo StarLeaf em diversos pontos onde opera e a custo zero, tem ajudado bastante na operacionalização diária na troca de experiência entre os profissionais de saúde em tempo real.
Motivos no uso do StarLeaf no Núcleo
Um dos grandes motivos pelo uso do StarLeaf no Núcleo de TelessaúdeMZ, é simplesmente por permitir a comunicação com o equipamento de videoconferência sem custos, sendo que os restantes mencionados acima, exigem custos adicionais para esta funcionalidade.

Núcleo Central de TelessaúdeMZ em plena sessão com o Hospital Distrital de Chiúre na província de Cabo Delgado usando StarLeaf.
CONTAGEM CD4
Recuperação da contagem de CD4
O estudo francês reafirma a importância de testar e tratar precocemente o HIV.
Autor: Alain Volny-Anne, NAM – AIDSMAP.
Contextualização
Sete em cada dez pessoas com HIV que tomam a terapia anti-retroviral combinada pela primeira vez recuperam sua contagem de células CD4 acima de 500 células / mm3, relatam pesquisadores franceses sobre SIDA. Tendo uma contagem de células CD4 mais elevada e uma maior proporção de CD4 / CD8 no momento do início do tratamento, prevê-se a recuperação de CD4.
Objectivos
O objetivo do estudo foi avaliar a recuperação de CD4 em pessoas que iniciaram seu primeiro tratamento em qualquer momento entre 2006 e 2014, e desde então obtiveram e mantiveram a supressão virológica por seis anos de acompanhamento.
Metodologia
Das 23.188 pessoas cujos dados são coletados no banco de dados, 6.050 preencheram os critérios do estudo e, portanto, puderam ser avaliados. Foram
As pessoas que tomam uma combinação tripla de antiretrovirais – incluindo inibidores da integrase, que não haviam sido incluídos em estudos anteriores sobre esta questão -, as pessoas que tomavam monoterapia com inibidores da protease ou regimes duplos também eram elegíveis. A maioria dos participantes era de homens (66%), dos quais aproximadamente um terço era originário da África Subsaariana.
Ao iniciar o tratamento, a mediana de idade dos participantes foi de 38,6 anos; a carga viral média do HIV-1 foi de 52.257 cópias / ml; a contagem mediana de CD4 foi de 275 células / mm3; e a mediana da relação CD4 / CD8 foi de 0,30.
Os participantes começaram o tratamento com uma contagem de células CD4 inferior a 500 células / mm3 e uma carga viral superior a 50 cópias / ml. Um critério adicional para inclusão no estudo foi ter pelo menos uma medição da razão CD4 / CD8 nos seis meses anteriores ao início do tratamento.
“Recuperação de CD4” foi definida como duas contagens de CD4 sucessivas de pelo menos 500 células / mm3 após confirmação de controle virológico, enquanto “controle virológico” se referiu a duas cargas virais consecutivas de menos de 50 cópias / ml.
No geral, 69,7% dos participantes tiveram recuperação de CD4 após seis anos com controle virológico sustentado.
Após contabilizar as mortes e os indivíduos perdidos no seguimento, apenas 12,1% não alcançaram a recuperação do CD4 no sexto ano.
Uma maior contagem de CD4 e uma maior proporção de CD4 / CD8 ao iniciar o tratamento, foram positivamente associados à recuperação de CD4: 87,1% dos indivíduos com 350-500 CD4s, ou 67,6% daqueles com 200-350 CD4 alcançaram recuperação de CD4. Enquanto que apenas 38,2% e 19,9% dos indivíduos com 100-200 CD4s e menos de 100 CD4s, respectivamente, alcançaram o mesmo.
82,5% dos indivíduos com relação CD4 / CD8 superior a 1 e 71,7% daqueles com proporção de 0,30 a 0,50 recuperaram seus CD4s. Enquanto que apenas 47,6% dos indivíduos com uma relação CD4 / CD8 inferior a 0,30 alcançaram a recuperação de CD4.
Conclusões
A relação CD4 / CD8 é um marcador tão bom do sistema imunológico quanto a contagem de células CD4. Uma razão normal varia entre 1 e 4, então quanto mais perto você chegar de 1, melhor
Foi demonstrado que o risco de doenças como o câncer aumenta com uma proporção menor. A equipe de pesquisadores identificou vários outros fatores que foram, associados à recuperação da contagem de células CD4:
- Idade: indivíduos com mais de 60 anos tiveram uma menor probabilidade de recuperação de CD4 do que pessoas mais jovens.
- Homens que fazem sexo com homens, mulheres e homens heterossexuais que não são da África Subsaariana, tinham uma maior probabilidade de recuperação de CD4 do que mulheres e homens heterossexuais da África Subsaariana.
- Indivíduos com coinfecção por hepatite B ou C e HIV, ao iniciar o tratamento, apresentaram menor probabilidade de recuperação de CD4.
- Indivíduos que iniciaram o tratamento em anos mais recentes não tinham maior probabilidade de recuperação de CD4 do que seus colegas que iniciaram o tratamento nos primeiros anos do estudo.
A influência dos anti-retrovirais no resultado da recuperação do CD4 também foi analisada. A partir de uma combinação tripla baseada em inibidores da transcriptase reversa não-nucleosídeos em vez de uma combinação baseada em inibidores da protease foi associada a uma menor probabilidade de recuperação de CD4. Mas não houve diferença ao começar com outros regimes, incluindo regimes baseados em inibidores da integrase (principalmente o raltegravir, neste estudo).
Quanto maior a carga viral no inicio do TARV maiores são as chances de recuperação do CD4. Este fenômeno pode ser explicado por uma liberação no sangue, após a eficácia do TARV, das células CD4 que foram mobilizadas no tecido linfóide, para combater a intensa replicação viral e a inflamação.
No entanto, o tempo necessário para a carga viral ser suprimida não foi associado à recuperação de CD4.
No artigo que descreve o estudo, os investigadores franceses afirmam que os dois principais fatores de recuperação de CD4, são uma alta contagem de CD4 e uma alta proporção de CD4 / CD8 no inicio do TARV. E reafirmam a necessidade de diagnóstico precoce e tratamento rápido do HIV.
Como os dados mais recentes demonstram que mais de um quarto das pessoas que vivem com o HIV na França ainda são diagnosticadas em um estágio tardio da infecção, a divulgação do estudo é oportuna.
Referência
Roul H[1] et al.; Recuperação da contagem de células CD4 + após terapia anti-retroviral combinada na moderna terapia anti-retroviral combinada (CD4 + cell count recovery after combined antiretroviral therapy in the modern combined antiretroviral therapy era). PubMed
[1] Sorbonne Université, Institut Pierre Louis d’Epidémiologie et de Santé Publique.
Mulheres HIV-positivas com menor probabilidade de serem tratadas com sucesso para pré-câncer cervical
Autor: Liz Highleyman, NAM – AIDSMAP.
As mulheres que vivem com o HIV são mais propensas do que as mulheres HIV-negativas a ter células anormais residuais ou recorrentes após o tratamento de lesões cervicais pré-cancerígenas, de acordo com uma pesquisa publicada recentemente na Clinical Infectious Diseases.
Contextualização
Vários tipos de papilomavírus humano (HPV) podem causar câncer cervical, anal, oral e outros. O câncer de colo de útero é uma das principais causas de morte por câncer em mulheres no mundo todo, mas geralmente não é fatal em países industrializados graças ao rastreamento de HPV e ao exame de Papanicolau, que permitem o tratamento precoce antes que as células anormais evoluam para o câncer.
Estudos mostraram que mulheres com HIV são mais propensas que mulheres HIV-negativas a ter infecção por HPV persistente e a desenvolver NIC e câncer cervical invasivo. Aqueles com contagens mais baixas de CD4, indicando maior imunossupressão, correm maior risco.
As lesões de neoplasia intra-epitelial cervical (NIC), são classificadas de acordo com a gravidade. Muitas lesões de grau 1 desaparecem sozinhas. O tratamento geralmente é recomendado para mulheres com lesões pré-cancerosas grau 2 ou 3 (também conhecidas como lesões intraepiteliais escamosas de alto grau, ou HSIL). Isso pode envolver destruir as células anormais congelando (crioterapia) ou aquecendo ou cortando uma seção em forma de cone do colo do útero usando uma faca fria ou um fio aquecido (procedimento de excisão eletrocirúrgica de loop, ou CAF).
Objectivos :
Analisar os resultados do tratamento pré-câncer do colo do útero em mulheres com HIV.
Metodologia
Pierre Debeaudrap, da Université Paris Descartes e colegas, realizaram uma revisão sistemática e uma meta-análise de estudos pesquisando MEDLINE, resumos de conferências sobre HIV e outras fontes em qualquer idioma de janeiro de 1980 a maio de 2018. Os pesquisadores identificaram 40 estudos elegíveis nos quais mulheres HIV-positivas com anomalias cervicais confirmadas foram acompanhadas por pelo menos seis meses após o tratamento. Quatro eram ensaios clínicos, 16 eram estudos de coorte observacionais e 20 eram estudos retrospectivos.
Dois terços dos estudos foram conduzidos em países de alta renda (principalmente os EUA) e 13 em países de baixa e média renda (principalmente na África); no entanto, os estudos de países de baixa renda foram maiores e representaram a maioria do total de participantes. No total, os estudos incluíram 3975 mulheres seropositivas. Alguns estudos também incluíram mulheres HIV-negativas como grupo de comparação (total de 3638). A excisão eletrocirúrgica foi a abordagem de tratamento mais comum.
A meta-análise dos dados indicou que a prevalência combinada de falha do tratamento entre mulheres HIV-positivas – definida como a presença contínua de NIC residual de grau 2 ou superior, ou recorrência de NIC de alto grau após o tratamento – foi de 21,4%. Metade das mulheres apresentava anormalidades cervicais residuais ou recorrentes de qualquer grau.
Não houve diferença na probabilidade de falha do tratamento com crioterapia (13,9%) versus excisão electrocirúrgica (13,8%). A falha foi mais provável, em 47,2%, em mulheres com margens positivas, o que significa que algumas células pré-cancerosas foram encontradas nas bordas do tecido removido cirurgicamente, em comparação com aquelas com margens negativas (19,4% de insucesso). É importante salientar que a taxa de insucesso do tratamento foi maior em alta renda (27,9%) em comparação com países de baixa renda (14,4%).
Nos dez estudos que incluíram mulheres seropositivas e seronegativas, as mulheres com HIV apresentaram mais do que um duplo risco maior de falha do tratamento com NIC grau 2 ou superior (23,4% versus 9,5%, respectivamente; odds ratio 2,7). Além disso, as mulheres HIV positivas apresentaram uma probabilidade cinco vezes maior de apresentar anormalidades cervicais pós-tratamento de qualquer grau.
“Esta meta-análise fornece evidências de que, mesmo após o rastreamento e tratamento do colo do útero, as mulheres infectadas pelo HIV permanecem com alto risco de lesões cervicais CIN2 + / HSIL”, escreveram os pesquisadores em sua discussão. “No contexto de um esforço crescente para intensificar o rastreamento do câncer do colo do útero em locais de recursos limitados, esses achados ressaltam a importância de refletir sobre o seguimento adequado pós-tratamento desta população”.
Uma limitação dessa análise é que os estudos nem sempre incluíam informações sobre as contagens de CD4 das mulheres, que sabidamente afetam os resultados pré-câncer do colo do útero em mulheres com HIV. No entanto, alguns dos estudos individuais mostraram significativamente mais falhas no tratamento em mulheres com níveis mais baixos de CD4 atuais ou mais baixos (mínimo de sempre). Além disso, os estudos não distinguiram consistentemente entre anormalidades residuais – que sugerem que células pré-cancerosas não foram completamente destruídas ou removidas – e recaíram.
Conclusões
Com base nessas descobertas, os pesquisadores concluíram: “Há fortes evidências de aumento do risco de falha do tratamento em mulheres infectadas pelo HIV, em comparação com suas contrapartes HIV-negativo.
Esta revisão sistemática e meta-análise descobriu que o tratamento para a neoplasia intra-epitelial cervical (NIC), ou células anormais que poderiam progredir para o câncer, foi quase três vezes mais provável de não ter sucesso em mulheres HIV-positivas. No entanto, o estudo foi incapaz de classificar as mulheres de acordo com a contagem de células CD4, por isso não lança muita luz sobre os resultados entre as mulheres em terapia anti-retroviral com função imunológica bem preservada.
Referência
De Beaudrap Pierre[1] et al.; Lesões pré-cancerosas residuais ou recorrentes após o tratamento de lesões cervicais em mulheres infectadas pelo HIV: uma revisão sistemática e meta-análise de falha do tratamento (Residual or recurrent precancerous lesions after treatment of cervical lesions in HIV-infected women: a systematic review and meta-analysis of treatment failure). Clinical Infectious Diseases, 2019.
[1] Institut de Recherche pour le Développement, Université Paris Descartes, INSERM 1244, Paris, France
Cancro da Próstata
CANCRO DE PROSTATA: UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
O cancro de Próstata está entre os cancros mais frequentes em Moçambique.
O que é a PROSTATA?
A próstata é um órgão interno, uma glândula, que só o homem possui. Tem a forma de uma noz com cerca de 3cm. Está situada logo abaixo da bexiga. A próstata produz um líquido importante que protege os espermatozóides e aumenta a sua mobilidade.
Um dos grandes problemas da próstata é a sua tendência a crescer com o passar do anos, principalmente após os 40 anos.
O aumento benigno da próstata é muito comum, afectando metade dos homens com mais de 50 anos. Esta condição não tem nenhuma relação com o cancro da próstata, mas também causa problemas e dificuldades em urinar.
O que é o CANCRO da PROSTATA?
O cancro da próstata desenvolve‐se quando as células da glândula da próstata começam a multiplicar‐se e a crescer descontroladamente. Em muitos casos, este crescimento é lento e o homem pode não perceber que está com cancro da próstata, pois este crescimento da próstata pode nunca ocasionar um sintoma ou problema. Há, contudo, casos em que o processo é muito rápido, causando vários problemas, principalmente problemas e dificuldades em urinar.
FACTORES DE RISCO
Idade: O risco aumenta depois dos 50 anos
História familiar: o risco de um homem ter cancro da próstata é maior se o seu pai ou irmão teve ou tem cancro da próstata.
Dieta: alguns estudos sugerem que homens que comem uma dieta rica em gordura animal ou carne podem ter um risco aumentado para cancro da próstata. Homens que comem uma dieta rica em frutas e vegetais podem ter um risco menor
Quais são SINTOMAS do CANCRO da PRÓSTATA?
Na fase inicial de desenvolvimento da doença a maioria dos homens não tem nenhum sintoma. Na fase mais avançada os sintomas podem ser:
- Jacto de urina muito fraco ou reduzido;
- Necessidade frequente de urinar, especialmente à noite;
- Sensação de que bexiga não se esvaziou completamente e ainda persiste a vontade de urinar;
- Dificuldade de iniciar a urinar;
- Dificuldade de interromper o ato de urinar;
- Urinar em gotas ou jactos sucessivos;
- Necessidade de fazer força para manter o jato de urina;
- Necessidade connua de urinar, ou pode acontecer que a urina saia sozinha;
- Sensação de dor na parte baixa das costas ou abaixo dos tesculos;
- Problemas em conseguir ou manter a erecção;
- Sangue na urina ou no esperma (esses são casos muito raros)Sintomas menos comuns incluem:Dor durante a passagem da urina;
Dor quando ejacula;
Dor nos testículos.
É possível fazer o DIAGNÓSTICO PRECOCE?
SIM, É POSSÍVEL através:
- Dos sinais e sintomas urinários;
- De análises de sangue;
- Do toque rectal para verificar o tamanho e crescimento
- da próstata;
- De Biópsia da próstata (ou colheita e análise de um pouco de material da próstata);
- Ecografia da próstata;
Outros exames quando indicados.
Na consulta clinica o técnico de saúde deve orientar aos pacientes masculinos maiores de 40 anos para:
- fazer uma consulta de controle 1 vez por ano, mesmo sem sintomas!
- se apresentar sinais e/ou sintomas acima referidos deve acudir a Unidade Sanitária de imediato.
O técnico de saúde deve transferir a unidade sanitária de referência a todos os pacientes com suspeita de Cancro de Próstata.
Cancro de Mama
O cancro de Mama continua a causar mortes na população Moçambicana.
Devem ser orientadas todas as mulheres para que realizem o autoexame de mama uma vez por mês, no segundo ou terceiro dia da menstruação. Se não tiver menstruação oriente para que escolha qualquer dia do mês.
O técnico de saúde deve ter especial atenção recomendando o auto exame a:
- Mulheres que já tiveram cancro da mama
- Mulheres com idade superior a 50 anos
- Mulheres com um familiar directo como mãe, irmã ou irmão que teve cancro de mama
- Mulheres que não tem filhos ou que tiveram o primeiro filho depois dos 35 anos
- Mulheres que menstruaram pela primeira vez antes dos 12 anos, ou tiveram a paragem definitiva da menstruação depois dos 50 anos
- Mulheres que tiveram outras doenças nas mamas
Como fazer o auto exame de mama:
- Um caroço ou inchaço numa das duas mamas ou debaixo de um dos braços;
- Um aumento anormal de uma das mamas;
- Um enrugamento da pele da mama como se fosse casca de laranja;
- Feridas na pele das mamas;
- Mudança da posição do mamilo, que pode ficar para dentro;
- Saída de um líquido anormal ou com um pouco de sangue através do mamilo.
Se presenta algum destes sinais oriente para que volte rapidamente a Unidade sanitária e transfira para uma unidade sanitária de Referência.
ESTUDOS SOBRE PROBLEMAS DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL COM USO DE ANTIRRETROVIRAIS
O uso de efavirenz durante a gravidez é tão seguro quanto ao uso de outros antirretrovirais
Autor: Martinez de Tejada B et al. (editor of NAM’s website aidsmap.com and co-edits HIV & AIDS Treatment in Practice (2003 to present).
Uma análise individual de dados de quase 25.000 mulheres gravidas e vivendo com o HIV, revelou que a taxa de malformações congênitas após o uso de efavirenz, não era estatisticamente diferente, podendo mesmo ser menor do que em crianças expostas a outros antirretrovirais. A análise feita pelo professor Begoña Martinez de Tejada, da Universidade de Genebra, foi publicada no Journal of Acquired Immunity De- dology Syndromes.
“Sugerimos que as informações sobre o efavirenz sejam atualizadas e que as poucas diretrizes europeias remanescentes que ainda recomendam evitar o efavirenz devem ser reconsideradas”, afirmam os autores.
Contextualização
Historicamente, havia preocupações sobre o uso do efavirenz durante a gravidez, devido aos achados de estudos em animais e um pequeno número de relatos de casos de defeitos do tubo neural em crianças expostas ao efavirenz durante os primeiros três meses de gestação. Com o tempo e com mais dados, essas preocupações mostraram-se pouco relevantes.
Em 2014, uma revisão sistemática e meta-análise de 23 estudos descobriu que o tratamento com efavirenz durante os primeiros três meses de gestação não aumentou o risco de malformações congênitas. A incidência global de anomalias no nascimento em crianças expostas ao efavirenze foi de 1,6%, comparável aos valores reportados na população geral em muitos países.
O efavirenz continua sendo um anti-retroviral amplamente utilizado por mulheres grávidas e em idade reprodutiva, especialmente em países subdesenvolvidos. Embora o uso do efavirenz como antiretroviral preferencial de primeira linha estivesse gradualmente a ser substituído pelo dolutegravir, as preocupações atuais com malformações congênitas após o uso do dolutegravir durante os três primeiros meses de gravidez obrigaram com que muitas mulheres fossem solicitadas a tomar efavirenz novamente.
Objectivos:
O estudo demonstra evidências de que o tratamento com efavirenz durante os primeiros três meses de gestação não aumentou o risco de malformações congênitas .
Metodologia
A Colaboração Européia para a Gravidez e Pediátrica HIV Coorte utilizou dados de 24.963 gestações que terminam em nascidos vivos únicos entre 2002 e 2015. Coortes na Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Polônia, Romênia, Espanha, Suécia, Suíça, Tailândia, A Ucrânia e o Reino Unido forneceram dados.
Em 1200 gravidezes (4,8%), a mãe recebeu efavirenz no momento da concepção ou durante os primeiros três meses de gravidez;
Em 7537 gravidezes (30,2%) a mãe recebeu um regime sem efavirenze;
Em 16226 gravidezes (65%) a mãe não recebeu tratamento anti-retroviral nesta fase.
Havia 412 bebês com pelo menos uma malformação congênita, incluindo 34 bebês com duas ou três malformações congênitas. A prevalência global foi de 1,7%. Os defeitos cardíacos, dos membros, musculosqueléticos congênitos foram os mais comumente relatados.
Entre as crianças expostas ao efavirenz, a prevalência malformações congênitas não foi estatisticamente significativa mais alta do que entre crianças não expostas a nenhum antirretroviral ou regime sem efavirenz.
Após ajuste para outros fatores que poderiam distorcer os resultados, o risco de malformações congênitas foi 40% menor em crianças expostas ao efavirenz do que naquelas expostas a outros antirretrovirais, mas isso não foi estatisticamente significativo.
Entre as crianças com defeitos cardíacos congênitos, quase metade do grupo sem efavirenz e um terco do grupo com efavirenz, também foram expostos à zidovudina.
Estudos tiveram resultados divergentes sobre a questão se as anormalidades cardíacas estão associadas à exposição à zidovudina ou não.
O parto prematuro foi mais comum em bebês com malformações congênitas (25%) do que bebês malformações congênitas (11%). Não houve associação com baixo peso ao nascer.
Conclusões
“No geral, nossos resultados demonstram evidências da segurança do efavirenz quando usado desde o início da gravidez, sem diferenças clinicamente relevantes no risco de malformações congênitas em comparação com crianças expostas a esquemas não baseados em efavirenz ou não expostas à terapia antirretroviral”, conclui prof. Martinez de Tejada.
Nenhum sinal de insegurança para o raltegravir
Nenhum sinal de malformações congênitas associados ao raltegravir
O recente relato de um potencial problema de segurança para o dolutegravir, um inibidor da integrase, levantou questões sobre se pode haver um problema de segurança para outras drogas da mesma classe. Os estudos de bictegravir, elvitegravir e dolutegravir relatados na conferência HIV de Glasgow em outubro foram tranquilizadores.
Dados adicionais sobre o raltegravir (886 bebês nascidos vivos expostos à droga) e elvitegravir (31 bebês nascidos vivos) foram fornecidos pelo Estudo Nacional sobre HIV na Gravidez e Infância, que coleta dados no Reino Unido e na Irlanda. Gestações entre 2008 e 2018 foram incluídas; os anti-retrovirais poderiam ter sido tomados durante qualquer fase da gravidez.
Daqueles expostos ao raltegravir, a prevalência de malformações congênitas foi de 2,6%, uma taxa que não foi estatisticamente diferente a um quarto que foi exposto à droga no momento da concepção (2,3%). Isso é consistente com a prevalência malformações congênitas na população geral do Reino Unido (2,0%) e com outras mulheres HIV positivas na coorte (2,8%).
Nenhum do pequeno número de crianças expostas ao elvitegravir teve uma malformação congênita.
Referências
Martinez de Tejada B et al. Defeitos congênitos após a exposição à terapia anti-retroviral baseada em efavirenz na concepção / primeiro trimestre da gravidez: uma análise de várias coortes. Jornal de Síndromes de Imunodeficiência Adquiridas, 2018. (Resumo).
Rasi V et al. Vigilância de anomalias congénitas após exposição ao raltegravir ou ao elvitegravir durante a gravidez no Reino Unido e na Irlanda, 2008-2018. Jornal de Síndromes de Imunodeficiência Adquiridas, 2018.