Cancro do colo do útero é um tipo de tumor maligno que ocorre na parte inferior do útero, no cervix. O câncer cervical é o terceiro câncer mais comumente diagnosticado em todo o mundo e a quarta principal causa de morte por câncer em mulheres. O câncer cervical causa cerca de 266.000 mortes em todo o mundo. A taxa de mortalidade é dez vezes maior nos países em desenvolvimento em comparação com os países desenvolvidos. Nas últimas décadas, a incidência de cancro do colo do útero diminuiu em um terço e a mortalidade em metade. Está comprovado que o programa de rastreamento do colo do útero está associado com o aumento da taxa de cura do cancro do colo do útero. Este tipo de cancro é mais comum em pessoas com idades entre 25 e 34 anos.
O cancro do colo do útero é uma das primeiras dez causas de morte de mulheres em Moçambique.
O Vírus HPV
O cancro do colo do útero é causado por uma infecção persistente pelo papilomavírus humano (HPV). O Vírus HPV transmite‐se principalmente pelo contacto sexual, ficando alojado na área genital dos homens e mulheres, mas existem outras vias como: o canal de parto, o uso de materiais contaminados (por exemplo: roupas íntimas, toalhas, etc…).
Dos 150-200 tipos de HPV conhecidos, os tipos 16 e 18 do vírus do papiloma humano (HPV) causam 75% dos cânceres do colo do útero em todo o mundo, enquanto os tipos 31 e 45 são a causa de mais 10% dos casos. Mulheres com múltiplos parceiros sexuais (ou que tenham relações sexuais com homens que têm ou tiveram muitos outros parceiros) estão em maior risco de desenvolver o câncer. Acredita-se que a infecção pelo HPV seja uma condição necessária para o desenvolvimento do câncer do colo do útero.
Factores de Risco
- Início precoce da vida sexual.
- Grande quantidade de parceiros sexuais, aumenta o risco de contrair HPV.
- Presença de outras DSTs, como gonorreia, sífilis, clamídia ou HIV.
- Sistema imunológico debilitado permite que o HPV tenha mais possibilidades de se manifestar.
- Tabagismo pode aumentar incidência de carcinoma de células escamosas.
- Uso prolongado de pílula anticoncepcional (por mais de 5 anos).
- Histórico de três ou mais gestações.
- Uso de DIU.
- Histórico familiar de câncer de colo do útero.
Sinais e Sintomas
As lesões ou feridas iniciais no colo do útero provocadas pelo vírus HPV podem não provocar sintomas. Quando a doença se agrava para cancro do colo do útero normalmente a mulher pode sentir ou ter:
- Sangramentos vaginais anormais, por exemplo hemorragias entre as menstruações, hemorragia durante ou após as relações sexuais, e hemorragias após a menopausa;
- Corrimento vaginal anormal, aumentado e que se repete, por vezes com mau cheiro;
- Dor durante as relações sexuais;
- Dor na pelve.
Os sintomas do cancro do colo do útero avançado incluem: perda do apetite, emagrecimento, fadiga, dor pélvica, dor lombar, dores e inchaço nas pernas, sangramento vaginal de grande volume, fraturas e, mais raramente, perda de urina e fezes pela vagina. Sangramento após ducha vaginal ou após o exame ginecológico é um sintoma comum do câncer do colo do útero.
Na consulta o técnico pode realizar perguntas que lhe permitam identificar melhor a presença de um provável cancro cervical, tais como:
- Quais são os seus sintomas? Apresenta sangramento vaginal irregular?
- Quando você começou a apresenta-los?
- Você faz os exames de Papanicolau desde que têm uma vida sexual activa? Já apresentou um resultado deste exame anormal?
- Você já foi tratada devido a algum problema no colo do útero?
- Você já foi diagnosticada com alguma ITS?
- Você fuma ou já fumou? Em que quantidades?
Uma mulher que tenha sido infectada pelo HPV desenvolve uma lesão (ferida) no colo do útero, que pode levar até 10 a 20 anos para desenvolver o cancro do colo do útero.
Diagnóstico
O cancro do colo do útero em estágio inicial pode ser rastreado pelo técnico nas consultas de rotina. Para detectá-lo ou as lesões do HPV os exames mais usados são:
- Papanicolau
- Colposcopia e vulvoscopia, com biópsia se necessário.
- Os exames de prevenção costumam ser feitos depois que a mulher começa a ter uma vida sexual activa.
Quando o câncer de colo do útero já está em curso, outros exames podem ser feitos para identificar a extensão do tumor:
- Biópsia da região
- Tomografia computadorizada
- Ultrassom
- Ressonância magnética
- Tomografia por emissão de pósitrons (PET-Scan).
Estadiamento
O cancro do colo do útero é estadiado a partir do sistema estabelecido pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), que se baseia mais no exame clínico do que nos achados cirúrgicos. Apenas os testes e métodos não invasivos a seguir podem ser usados no estadiamento da doença, quando se utiliza o sistema FIGO: palpação, inspeção, colposcopia, curetagem endocervical, histeroscopia, cistoscopia, proctoscopia, urografia intravenosa, conização e radiografia do tórax e do esqueleto.
Estádio I: Tumor limitado ao colo |
|
Estádio 1a Carcinoma invasivo diagnosticado só por microscopia |
Estádio 1b Lesões invasivas clinicamente visíveis limitadas ao colo ou lesão visível no microsocopio >IA2 |
Estádio II: Tumor com invasão para além do útero sem atingir a parede pélvica ou o terço inferior da vagina |
|
Estádio 2a
Sem invasão dos paramétrios |
Estádio 2b Com invasão dos paramétrios mas não da parede pélvica |
Estádio III:
Extensão para a parede pélvica e/ou envolvimento do 1/3 inferior da vagina e/ou hidronefrose ou rim não funcionando |
|
Estádio 3b
Extensão para a parede pélvica e/ou hidronefrose ou rim não funcionando |
|
Estádio IV Extensão para além da pélvis ou envolvimento da mucosa da bexiga ou recto |
|
Estádio 4ª
Tumor com invasão de órgãos adjacentes |
Estádio 4b Tumor com invasão de órgãos à distância |
Prevenção
O Cancro do Colo do Útero PODE SER PREVENIDO!
- Vacinar as meninas contra o HPV entre a idade de 9 e 20 anos. A vacina reduz o risco de desenvolver o câncer cervical em 93% e também protege contra o câncer de vagina, câncer de vulva, câncer retal, câncer de faringe e câncer de boca, que também associados ao HPV. A vacina nos homens também previne cânceres masculinos como o câncer de pênis e a transmissão do HPV para mulheres.
- Uso de preservativo em todas relações sexuais.
- Mudança de comportamentos sexuais de risco para reduzir a transmissão de doenças sexuais
- Adiamento das relações sexuais nas meninas,
- O rastreio e tratamento das lesões ou feridas iniciais do colo do útero. Através do exame de Papanicolaue da colposcopia é possível realizar a monitorização das mulheres saudáveis para detectar lesões intracervicais (CIL). O exame deve ser repetido a cada 5 anos em mulheres sem factores de risco, a cada 3 anos com baixo risco e anualmente quando há alto risc O primeiro exame normalmente é feito entre os 20 e os 30 anos.
No País, algumas unidades sanitárias já estão a fazer o rastreio do cancro do colo do útero e o tratamento imediato das lesões iniciais antes de estas se transformarem em lesões malignas. O técnico de saúde deve transferir as utentes com sinais e sintomas para uma unidade sanitária para o rastreio.
Tratamento
O tratamento geralmente é por cirurgia, radioterapia e quimioterapia, e depende das condições do paciente, do tipo de tumor e da sua procedência.
Prognóstico
A sobrevivência 5 anos após o diagnóstico é em média de 72%. Nos estágios iniciais é de 92%, caindo 35% nos estágio III e 15% no estágio IV. Cerca de 35% das mulheres com câncer invasivo voltam a ter esse câncer em menos de 5 anos. Geralmente as metástases são locais, invadindo vagina, bexiga, cólon, reto e peritônio.
Referências
- Louise Newson; Cervical Cancer https://patient.info/doctor/cervical-cancer-pro
- World Cancer Report 2014: World Health Organization. 2014. pp. Chapter 1.1. ISBN 9283204298
- Bosch, FX; de Sanjosé, S (2007). «The epidemiology of human papillomavirus infection and cervical cancer.». Disease Markers.
- Cervical Cancer Prevention (PDQ®). National Cancer Institute. 27 de fevereiro de 2014.
- Bermudez, Adriana e Col.; Câncer do colo do útero, FIGO CANCER REPORT 2015.
Telessaude MZ